Inteligência artificial: Brasil precisa criar estruturas soberanas para conter colonialismo digital

08/06/2024

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Inteligência artificial: Brasil precisa criar estruturas soberanas para conter colonialismo digital

Foto: Contraf-CUT

 

A inteligência artificial (IA) e seu avanço têm gerado apreensão e dúvidas em relação ao futuro da sociedade, principalmente em relação aos empregos. Por isso, para abordar o tema de extrema relevância, a Conferência Nacional dos Bancários convidou Sérgio Amadeu, doutor em Ciência Política pela USP, para a segunda mesa do evento.

O professor apresentou dados alarmantes e afirmou que não só empregos de baixa complexidade estão em questão com o avanço da IA. No Brasil, por exemplo, a estimativa é que 40% dos empregos estão expostos com esta tecnologia, o que significa que estes postos de trabalho podem ser eliminados ou ter sua forma profundamente alterada.

Sérgio também alertou delegadas e delegados sobre a concentração do conhecimento e a privatização do desenvolvimento da IA nas chamadas Big Techs, essencialmente grandes corporações americanas e chinesas. Isto envolve a chamada “dataficação”, um modelo de negócios que consiste na coleta permanente de dados de tudo e todos para “treinar” os modelos de inteligência artificial. Hoje, 81,2% do mercado mundial da “nuvem” (armazenamento de dados) está nas mãos de apenas 5 empresas, sendo 40% na Amazon.

Isto representa, de acordo com o professor, um risco à soberania nacional. Hoje, mais de 70% das universidades brasileiras deixam dados de pesquisas armazenados no Google, utilizando seus serviços de e-mail. O próprio governo, por meio do aplicativo SouGov, entrega dados de servidores públicos à IBM.

Para Sérgio, é preciso agir preventivamente. “O movimento sindical pode avançar muito ao criar protocolos de implementação de uso de IA que antecipem riscos e destruição de postos de trabalho. Os trabalhadores deslocados pela implementação de IA devem ser formados e realocados. Se isso não ocorrer, caminharemos para a barbárie”, alertou. “Precisamos lutar por soberania digital, autonomia sobre o que a gente usa, sobre os nossos dados. Precisamos criar infraestruturas soberanas no Brasil. Se não fizermos isso, vamos continuar aprofundando o novo colonialismo, que é o colonialismo digital”, afirmou.

 

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