Banco Central precisa rever regulação das fintechs para evitar risco ao sistema, alertam trabalhadores
07/05/2025
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As políticas de regulação do Banco Central (BC), nas últimas décadas, têm aprofundado os problemas do setor financeiro, como: as altas taxas de juros, exclusão financeira de parte importante da população e a concentração regional na oferta de crédito. Tais fatores, somados às mudanças tecnológicas, podem estar contribuindo para um ambiente de crise financeira. O alerta aconteceu na audiência pública "Sistema financeiro e seus impactos nas relações de trabalho", promovida pela Câmara dos Deputados, e mediada pelo deputado federal Reimont (PT-RJ), na última segunda-feira, 5.
O doutor em economia pela Unicamp e técnico do Dieese, Gustavo Cavarzan, mostrou que, nos últimos anos, o BC passou a atuar ativamente na formação da política de regulação do sistema financeiro, com o objetivo de aumentar a concorrência. A partir de então, o BC estabeleceu regras menos rígidas para que instituições que não são bancos pudessem atuar com serviços bancários. Com isso, entre 2016 e 2024, o número de empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros (as chamadas fintechs) saltou de 1 para 258. Além disso, em menos de uma década, quatro fintechs (Nubank, Mercado Pago, Ame Digital e Pag Bank Seguro) passaram a figurar entre as dez maiores instituições financeiras do país.
Segundo Cavarzan, a regulação foi eficaz em impulsionar novos atores não bancários. Mas as promessas de maior crédito, menores juros e maior inclusão não foram alcançadas. "Em relação à concessão de crédito a juros mais baixos, em maio de 2024, o Nubank, por exemplo, estava cobrando 115,04% de juros no crédito não consignado, pior percentual do que o que estava sendo cobrado por bancos tradicionais, naquele momento", destacou.
Regulação frágil e risco de crise sistêmica
"O modelo de regulação implementado pelo BC, na última década, também acabou aumentando o risco sistêmico financeiro no país e de fraudes", alertou, em seguida, o doutor em cientista político pela USP e pesquisador da FAPESP, Moisés da Silva Marques. “Isso porque, por terem regulações mais frágeis que as dos bancos tradicionais, as fintechs tornam o ambiente econômico mais inseguro”, explicou, ao destacar a necessidade de uma mudança no sistema financeiro atual.
“Regular o sistema financeiro é uma responsabilidade muito grande. Quando uma entidade bancária quebra, a sociedade inteira sofre as consequências. E o grande problema hoje, no Brasil, é que temos uma regulação do Banco Central diferenciada para bancos e outras empresas que atuam como bancos no setor, como as fintechs", destacou Juvandia. “O que aconteceria se o Nubank quebrasse, empresa que, apesar de não ser registrada como banco, tem 100 milhões de clientes, oferecendo serviços de um banco? Afetaria seriamente todo o país”, completou a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira.
Precarização do trabalho
Além disso, a entrada das fintechs no sistema financeiro nacional gerou uma movimentação de trabalho no setor, com redução do emprego bancário, porém aumento de atividade em todo o ramo financeiro. Enquanto os bancos tradicionais pagam contribuição sobre lucro líquido de cerca de 20%, em média, as fintechs pagam 9%. As fintechs também não estão sob as mesmas responsabilidades que os bancos precisam cumprir sobre as questões trabalhistas e de segurança de dados dos clientes.
Fonte: Sindicato dos Bancários de BH e Região com Contraf-CUT