Quase uma década após o início da regulamentação que impulsionou o surgimento das fintechs no Brasil, o cenário é de contradições. O objetivo inicial era modernizar o Sistema Financeiro Nacional (SFN), ampliar a inclusão e reduzir o custo do crédito. No entanto, o que se viu foi o crescimento acelerado de empresas digitais que, embora tenham conquistado espaço e clientes, não conseguiram resolver o problema do crédito caro e ainda abriram brechas para a atuação do crime organizado.
Em 2024, os ativos totais das fintechs somavam R$753 bilhões, com uma carteira de crédito de R$82,5 bilhões e lucro líquido de R$21 bilhões. Além disso, o número de empresas reguladas pelo Banco Central passou de 1 em 2016 para 330 em 2025. Mas o universo das fintechs é ainda maior. Segundo o FinTech Report 2025, da consultoria Distrito, existem 981 empresas atuando com serviços financeiros, muitas fora do escopo regulatório do Banco Central.
A brecha regulatória e o risco sistêmico
O processo regulatório que permitiu a participação das fintechs no SFN nacional foi ampliado em 2011, quando foi lançada a Parceria Nacional para Inclusão Financeira (PNIF), criada pelo Banco Central para coordenar, junto com outros atores públicos e privados, uma política de modernização para promover a inclusão financeira. Porém, a ausência regulatória gerou riscos operacionais e deu abertura para a lavagem de dinheiro.
Apesar de operarem como bancos, muitas fintechs não estão registradas nas CNAEs bancárias (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), sem regulamentação do Banco Central. Caso emblemático é a Clava Forte Bank, ligada à igreja Lagoinha, registrada como correspondente bancário. Do mesmo modo, muitas empresas aderem a classificações genéricas ou de tecnologia, como: “administração de cartão de crédito”, "desenvolvimento de software”, “emissão de vales-alimentação”, entre outras.
Impactos Econômicos
A Inclusão financeira aumentou a quantidade de instituições, mas não em acesso qualificado ao crédito. Então, apesar do crescimento das fintechs, o sistema financeiro brasileiro continua marcado por crédito caro e baixa inclusão. Em maio de 2024, o Nubank, que é uma das maiores fintechs do país, cobrava 115,04% de juros no crédito não consignado, superando os bancos tradicionais.
Além disso, a relação crédito/PIB, indicador que mede o volume de crédito em relação à riqueza produzida no país, permaneceu estagnada: era 53,9% em 2015 e caiu para 53,2% em 2024. Um outro problema é que as fintechs pagam, efetivamente, menos impostos que os bancos, têm alíquotas menores de imposto e uma regulação mais frágil em nível de exigência de capital.
Diante disso, organizações criminosas podem abrir fintechs e oferecer abertamente contas clandestinas, que permitiam transações financeiras dentro do sistema bancário oficial, de forma oculta, onde eram utilizadas empresas com dívidas trabalhistas e tributárias.
Fonte: Sindicato dos Bancários de BH e Região com Contraf-CUT e Jornal GGN