Conferência Nacional debate fintechs, papel do Banco Central e regulação do sistema financeiro
23/08/2025
Notícias
A primeira parte da tarde deste sábado, 23, na 27ª Conferência Nacional dos Bancários, foi dedicada a debates sobre o sistema financeiro. Delegadas e delegados puderam refletir sobre o crescimento das fintechs, a atuação do Banco Central e o papel das instituições financeiras e monetárias no desenvolvimento do país.
O doutor em Política Internacional e professor da FespSP, Moisés Marques, explicou que o crescimento de novos atores do sistema financeiro, como as fintechs e todo um novo ecossistema, representa um risco sistêmico para o país. Isto porque, apesar de atuarem como bancos, estas empresas e plataformas não se submetem à mesma regulação.
Ao mesmo tempo, o professor explicou que o crescimento do uso de novas tecnologias e inteligência artificial (IA) traz consigo inúmeros riscos relacionados à privacidade e ataques cibernéticos no sistema financeiro. “Quem se responsabiliza e quais setores estão capacitados para lidar com esses riscos? As autoridades monetárias conhecem os modelos utilizados pelas instituições financeiras? Com quem vai ficar a conta de um vazamento de dados?”, questionou.
Moisés também tratou, em sua apresentação, sobre o papel do Banco Central, apontando que é preciso combater conflitos de interesse, lutar pela integridade da democracia econômica brasileira e impedir que a autoridade monetária seja sequestrada por interesses escusos.
Descompasso nas políticas monetárias
O economista e técnico do Dieese Gustavo Carvazan também questionou o papel do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional (CMN), afirmando que há hoje um descompasso que prejudica a economia. Desde 1999, por exemplo, a meta de inflação no país segue uma tendência de constante queda, a ponto de se tornar praticamente inatingível.
“É muito provável que, em um país com as características do Brasil, seja descumprida a meta em um patamar tão baixo, o que levará o Banco Central a elevar a taxa de juros. É factível que se tenha uma meta de inflação que o país não cumpriu nos últimos 30 anos? Mesmo que a inflação esteja sob controle, como está agora, há uma sensação de descontrole porque ela está acima da meta”, explicou o economista, destacando que o atual governo está em um dos menores patamares de inflação das últimas décadas, mas a Selic segue alta.
Neste sentido, Gustavo reforçou os impactos nocivos da taxa de juros elevada. Entre os exemplos, está o fato de que o percentual da renda das famílias para o pagamento de dívidas com os bancos passou de 20% para 28% desde 2020. Com isso, mesmo com um crescimento na renda dos brasileiros, o crescimento real é praticamente anulado pelos juros.